Durante a atividade física, uma quantidade significativa de calor é gerada como um subproduto do metabolismo energético, que mantém os processos de contração e relaxamento dos músculos em atividade. Essa elevada produção de calor é a principal razão fisiológica que nos leva a perder água e eletrólitos, aumentando as chances de uma desidratação imposta pela prática esportiva.
Entenda como funciona a perda de calor durante o exercício: a taxa de calor produzida pelos músculos ativos pode chegar a até 100 vezes a produzida pelos músculos inativos. Se o organismo armazenasse esse calor em vez de dissipá-lo, a temperatura interna se elevaria à razão de 1°C (1,8° F) a cada 5 a 8 minutos (durante exercícios moderados), resultando em hipertermia (superaquecimento) e colapso em 15 a 20 minutos. Para que isso não ocorra, o organismo possui um sistema muito complexo que sinaliza o aumento na temperatura interna e consequentemente ativa os reflexos associados à perda de calor.
Quem determina a temperatura corpórea normal é o hipotálamo, que comanda os ajustes termoregulatórios. O hipotálamo possui neurônios em sua porção anterior, que desempenham importante papel na termoregulação, o aquecimento e o resfriamento desta área desencadeiam respostas que vão, respectivamente, aumentar e dimunuir a perda de calor.
A dissipação do calor em excesso pode ocorrer através de quatro mecanismos:
-Irradiação: objetos emitem continuamente ondas térmicas por irradiação. Este mecanismo não necessita contato entre os objetos e é bem exemplificado pelos raios solares que aquecem a terra. Normalmente nós emitimos nosso calor para o meio ambiente, porém em dias quentes esta permuta torna-se inversa impedindo de eliminarmos calor por este mecanismo;
-Condução: a perda de calor neste caso envolve a transferência direta de calor através de um líquido, sólido ou gás de uma molécula para outra. Durante o exercício o calor é dissipado por condução para roupas, calçados ou materiais em contato com o corpo;
– Convecção: é a transferência de calor para fluídos que se deslocam devido a diferença de densidade. Moléculas de ar aquecidas sobem pressionando a camada de ar mais frias para baixo, originando as correntes de convecção. Um bom exemplo é uma corrida na esteira onde o individuo corre no mesmo lugar e vai aquecendo o ar que está em volta dele, ao correr na rua o ar quente é deixado para trás facilitando assim a diminuição do calor corporal. Quando colocamos um ventilador próximo a esteira que estamos correndo, o ar que vem do ventilador não é mais frio que o ar do ambiente, a sensação é agradável porque o ar que chega empurra o ar aquecido próximo do corpo caracterizando assim o processo de convecção.
-Evaporação: constitui a principal defesa fisiológica contra o superaquecimento. Nos dias quentes principalmente, a eficácia na perda de calor por condução, convecção e irradiação diminui. Quando a temperatura ambiente ultrapassa a temperatura corporal, passa a haver uma passagem de calor do meio para o corpo e, por conseqüência, a evaporação torna-se fundamental.
Como desidratamos?
A sudorese, ato de produzir e libertar suor, inicia-se quando a temperatura corporal central é superior a 37ºC (98.6ºF). A quantidade de sudorese é modulada pela estimulação das glândulas sudoríparas por nervos colinérgicos simpáticos e também, em situações de exercício ou stress, por concentrações elevadas de epinefrina e norepinefrina. As glândulas sudoríparas produzem o suor e têm grande importância na regulação da temperatura corporal. São de dois tipos: as écrinas, que são mais numerosas, existindo por todo o corpo e produzem o suor eliminando-o diretamente na pele. E as apócrinas, existentes principalmente nas axilas, regiões genitais e ao redor dos mamilos, responsáveis pelo odor característico do suor.
O suor pode ser produzido em resposta a um estímulo nervoso, elevação da temperatura do ar e/ou exercícios físicos, e é produzido em uma glândula sudorípara écrina.
Quando a glândula sudorípara é estimulada, as células secretam um fluido (secreção primária) similar ao plasma, ou seja, basicamente composto de água, altas concentrações de sódio e cloreto e baixa concentração de potássio, mas sem as proteínas e ácidos graxos geralmente encontrados no plasma. Esse fluido surge nos espaços entre as células (espaços intersticiais) que o recebem dos vasos sangüíneos (capilares) da derme. O fluido se desloca da porção espiralada e sobe através do duto reto. O que acontece no duto reto depende da taxa ou fluxo de produção de suor.
A alta produção de suor que acontece em virtude do exercício físico, faz com que as células, na parte reta do duto, não tenham tempo hábil para reabsorver todo o sódio e cloreto da secreção primária. Assim, grande parte do suor chega à superfície da pele e sua composição é quase a mesma da secreção primária. As concentrações de sódio e cloreto são aproximadamente a metade e a de potássio é cerca de 20% maior. Portanto, a partir da elevada produção de calor imposta pelo exercício físico, ocorre a perda de água, sódio, cloreto e potássio, promovendo a necessidade de repor essas perdas. Dessa forma, o cumprimento adequado das necessidades hídricas durante o exercício é considerado fundamental para o rendimento físico e deve ser continuamente estimulado.
Referências Bibliográficas
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