Você já sabe do que se trata a economia circular e qual é a importância desse conceito para transformar a forma como lidamos com os alimentos e para reduzir o problema do desperdício? Essa questão é de grande relevância quando se pensa que, somente nos Estados Unidos, 40% dos alimentos produzidos e processados são desperdiçados todos os anos.
No Brasil, o cenário não é muito diferente. Estamos entre os 10 principais países que mais desperdiçam comida, com 41 mil toneladas indo para o lixo todos os anos. Embora esses sejam dados alarmantes, felizmente é possível reintegrar esses resíduos na economia e transformar os alimentos que seriam desperdiçados em algo que voltará para a sociedade.
É justamente sobre isso que falaremos no post. Vamos conferir?
A economia circular propõe uma mudança em toda a maneira de consumir. Trata-se de um conceito que visa transformar resíduos descartados em insumos para a fabricação de novos itens, criando uma lógica circular e se opondo, assim, ao processo produtivo linear, em que um produto “nasce” (é produzido), é utilizado por um período (ou não, em se tratando de alimentos desperdiçados, por exemplo), e é descartado.
Pode-se afirmar, inclusive, que na economia circular não existe a ideia de resíduo, já que tudo se transforma continuamente em matéria-prima para um novo ciclo. Esse sistema é também responsável por repensar as práticas econômicas, indo além dos famosos três “Rs” (reduzir, reutilizar e reciclar). Isso porque, na teoria, ele une o modelo sustentável com o ritmo tecnológico acelerado do mundo moderno.
Para ilustrar, temos o fato de que, no modelo atual (linear), descartamos cada vez mais materiais não biodegradáveis, como smartphones, TVs, eletrodomésticos etc. Mas e se existisse um processo no qual esses itens retornassem ao ciclo econômico, sendo levados de volta às suas fábricas, desmontados, otimizados e trazidos de volta para nós? Dessa forma lucram tanto a saúde do planeta e das populações, quanto a economia.
É justamente essa a ideia de transformação de resíduos em insumos, acrescentando novos “Rs” à lista que mencionamos anteriormente — restauração e regeneração. No entanto, é preciso entender que esse conceito não está limitado apenas aos objetos materiais. Os alimentos também participam da economia circular, inclusive, como um dos principais combustíveis para o funcionamento desse sistema sustentável.
Todos os anos, aproximadamente 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados ou perdidos ao redor do mundo. De forma mais palpável, podemos afirmar que cerca de um terço de tudo que produzimos acaba tendo como destino as latas de lixo. Contudo, é preciso entender que, além das calorias e nutrientes, são descartados também valores ambientais, culturais e sociais.
Lembre-se de que para o cultivo e fabricação desses produtos utiliza-se água, energia elétrica, terra, logística e mão de obra, e como resultado da produção de determinados tipos de alimentos, ocorre a formação de gases de efeito estufa, por exemplo. Tudo isso acaba indo para o lixo junto com o alimento desperdiçado, e as consequências negativas da produção de certos alimentos são geradas em vão. Para reverter essa situação a economia circular é responsável por fazer com que esses alimentos sejam aproveitados em sua totalidade.
O impacto desse sistema é muito maior do que se pode imaginar. Toda essa iniciativa também está de acordo com vários dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) implementados pela ONU. Eles têm como finalidade aplicar em todo o mundo, até 2030, ações que contribuem com o fim da pobreza, das desigualdades e das alterações climáticas,equilibrando as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental.
Conforme a economia circular aplicada na indústria de alimentos começa a ganhar espaço e destaque, cria-se a oportunidade de promover uma discussão na sociedade sobre a forma como lidamos com os alimentos.
Ao longo do texto, já levantamos alguns dados preocupantes sobre o desperdício de alimentos. Entre os produtos mais descartados, estão as frutas, hortaliças, raízes e tubérculos, que têm perdas da ordem de 45%. Sendo assim, pode-se concluir que quase metade do que é colhido é jogada fora. Os pescados, carnes e produtos lácteos também entram na estatística: 20% da carne de gado e 35% dos peixes e frutos do mar produzidos mundialmente são perdidos ou desperdiçados.
Hoje, mais do que nunca, é o momento certo para compreender e repensar esses fatos, dando a eles a importância que realmente possuem. Felizmente, a economia circular não é apenas um modismo, tanto é que cada vez mais as grandes marcas, além dos consumidores, percebem que mudar a forma de produzir bens de consumo e consumi-los, de modo a preservar os recursos naturais, é imprescindível.
Abaixo, reunimos alguns cases de sucesso nos quais os alimentos são submetidos a processos de reaproveitamento e utilizados para a fabricação de novos produtos. Acompanhe!
A Castanha-do-Brasil, fruto funcional e saudável encontrado em locais de difícil acesso e coletado, em grande parte das vezes, por comunidades locais é um grande exemplo de aplicação na prática da economia circular. Após a coleta das oleaginosas, um de seus destinos é a produção do óleo, muito utilizado na gastronomia, a qual é executada a partir da prensagem a frio, possibilitando a preparação de diversos pratos.
Esse processo resulta em uma farinha (“bagaço”) que também serve como ingrediente para vários dos alimentos consumidos localmente e e em todo o Brasil. A casca, por sua vez, tem como destino a adubação da terra e todo o processo de cultivo orgânico da própria Castanha-do-Brasil.
Os pneus de automóveis são compostos por 30% de negro de fumo, material de enchimento à base de petróleo que confere durabilidade à borracha, além de sua cor preta. Com o alto número de carros sendo produzidos todos os dias no mundo, é necessária uma grande quantidade de negro de fumo para a fabricação, certo?
O problema é que tal material é feito pela combustão incompleta de produtos petrolíferos pesados, ou seja, é altamente prejudicial à natureza. Com base na economia circular, cientistas da The Ohio State University criaram um método para substituir parte da matéria-prima em questão por uma alternativa sustentável, além de inusitada: cascas de ovo e de tomate.
Os materiais foram escolhidos com base nas seguintes constatações: as cascas de ovo apresentam microestruturas porosas que garantem maior contato com a borracha e dão aos itens à base de borracha propriedades incomuns. Já as cascas de tomate permanecem estáveis em altas temperaturas e geram materiais de bom desempenho. A escolha torna-se ainda mais sustentável considerando o fato de que, apenas nos EUA, são consumidos 100 bilhões de ovos por ano, gerando uma enorme quantidade de cascas que são apenas descartadas.
Além disso, os tomates, quando processados para a fabricação de molhos e enlatados, por exemplo, têm suas cascas removidas e descartadas. Dessa forma, há um enorme desperdício de ambos os materiais, que, em vez de acabarem em aterros, contribuem para a fabricação de produtos de borracha sustentáveis e redução da dependência do petróleo.
Viu só como a economia circular transforma a forma como a sociedade se relaciona com os alimentos? Isso contribui, sobretudo, para a redução de um problema grave como o desperdício — desafio estrutural que envolve tanto a cadeia de distribuição quanto o comportamento do consumidor. Ao transformar os resíduos alimentares em novos produtos, estamos colaborando diretamente com o avanço da sociedade, com o meio ambiente e com a economia.
E então, gostou de saber mais sobre a economia circular?